Anúncio foi feito pela ministra das Relações Exteriores da África do Sul, país anfitrião da cúpula que reúne os líderes do bloco emergente. Mais de 40 países teriam manifestado interesse em ingressar no Brics.

 No segundo dia da cúpula em Joanesburgo, o grupo de economias emergentes Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) chegou a um acordo nesta quarta-feira (23/08) sobre a expansão do bloco e as orientações para a adesão de novos membros, informou a ministra das Relações Exteriores sul-africana, Naledi Pandor.


"Concordamos na questão da ampliação. E adotamos um documento que estabelece diretrizes de princípios e processos para considerar os países que desejam se tornar membros do Brics", disse Pandor à Ubuntu Radio, emissora vinculada a sua pasta.


"Os líderes dos Brics farão um anúncio mais detalhado antes da conclusão da cúpula", acrecentou.


A informação foi divulgada após o principal dia da 15ª Cúpula dos Chefes de Estado do Brics, quando cada mandatário discursou no plenário em Joanesburgo.



O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participou por videoconferência. Ele não viajou à África do Sul temendo ser preso, uma vez que é alvo de um mandado de detenção emitido pelo Tribunal Penal Internacional por supostos crimes de guerra na Ucrânia.


Mais de 40 países interessados

A ampliação do bloco de economias emergentes tem gerado grandes expectativas internacionais sobre se poderá levar a mudanças significativas na atual ordem mundial.


Cerca de 40 países manifestaram abertamente interesse em ingressar no Brics, segundo o governo sul-africano, que recebeu "manifestações formais de interesse de líderes de 23 países", incluindo Argentina, Irã, Arábia Saudita, Bolívia, Cuba, Honduras, Venezuela, Argélia e Indonésia.



O Brics busca mais peso nas instituições internacionais, até agora dominadas pelos Estados Unidos e pela Europa; enquanto Pequim busca expandir sua influência na competição com Washington.


Brasil, Rússia, Índia e China criaram o grupo Bric em 2006, ao qual se juntou a África do Sul em 2010, acrescentando a letra S à sigla.


O bloco representa mais de 42% da população mundial e 30% do território do planeta, além de 23% do Produto Interno Bruto (PIB) e 18% do comércio mundial.


Guerra na Ucrânia


A expectativa internacional era que a guerra na Ucrânia estivesse no centro do debate. No entanto, o tema teve pouco destaque até agora. A cúpula se encerra nesta quinta-feira, com uma declaração final conjunta.


Em seu discurso nesta quarta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil quer contribuir com os esforços para um cessar-fogo imediato e uma paz duradoura na Ucrânia.



Lula destacou a posição histórica do Brasil de defesa da soberania e integridade territorial das nações e considerou positivo o fato de que há um número crescente de países engajados na tentativa de atingir um acordo para encerrar a guerra que se arrasta há um ano e meio. 


"Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, tampouco podemos ficar indiferentes às mortes e à destruição que aumentam a cada dia. O Brasil não contempla fórmulas unilaterais para paz. Estamos prontos para nos juntar a um esforço que possa, efetivamente, contribuir para um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura", afirmou Lula. 


Ele acrescentou que a guerra na Ucrânia mostra as limitações do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e que os Brics têm um papel relevante na solução do conflito.  



"A busca pela paz é um coletivo e um imperativo para o desenvolvimento justo e sustentável. Os Brics devem atuar como uma força pelo entendimento e pela cooperação. Nossa disposição está expressa na contribuição da China, da África do Sul e do meu próprio país para os esforços de solução do conflito na Ucrânia", enfatizou.


Putin agradeceu aos demais países do Brics pelos esforços dirigidos a buscar uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia, mas voltou a responsabilizar o Ocidente pela guerra.


Moeda comum

Lula também afirmou que a criação de uma moeda para transações comerciais entre os países do bloco reduzirá vulnerabilidades dessas nações e destacou que o interesse de outros países em se juntar ao Brics demonstra a relevância crescente do bloco


O presidente brasileiro criticou os atuais modelos de financiamento globais, que são prejudiciais aos países em desenvolvimento, e destacou que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do Brics pode oferecer alternativas de financiamento mais adequadas às necessidades dos países do Sul. 


"É inadmissível que os países em desenvolvimento sejam penalizados com juros até oito vezes mais altos que os cobrados dos países ricos. É preciso aumentar a liquidez, ampliar o financiamento concessional e pôr fim às condicionalidades. O sistema multilateral de comércio deve ser reavivado para voltar a atuar como ferramenta para um comércio justo, previsível, equitativo e não discriminatório. A descarbonização de nossas economias deve vir acompanhada pela geração de empregos dignos, industrialização e infraestrutura verdes e serviços públicos para todos", disse o presidente. 


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